quinta-feira, 29 de maio de 2008

Nos trilhos do esquecimento


Por Juliana Brito e Pery Negreiros

O próximo trem para Caucaia sai às 9h20min. À essa altura da manhã, o terminal ferroviário João Felipe já viu muita gente passar por ali desde que o sol deu as caras para um novo dia. Em sua maioria, gente apressada. Tem também aqueles que não parecem ter compromisso algum e, excessivamente despreocupados, até se dão ao luxo de tirar um cochilo enquanto esperam o trem fazer a manobra para se encaixar nos vagões traseiros. E, finalmente, há aqueles que parecem não estar indo a lugar algum, estando ali apenas para entrar no primeiro vagão que encontrarem. Seria, talvez, um meio de fuga, de alguém ou de alguma coisa, com destino para lugar nenhum.

É nesse ritmo, ora frenético, ora modorrento, que milhares de anônimos passam diariamente pela antiga estação de trem, fundada no longínquo ano de 1873. O prédio é uma dos pouquíssimos elementos da história de Fortaleza que insistem em lembrar um passado mais distante, uma testemunha inerte do que a cidade foi um dia. Uma estação que também é quase anônima, pois é comum perceber a surpresa de alguns, quando informados de que há ainda trens com passageiros circulando pela Região Metropolitana. Para nós, confessamos, foi a primeira viagem de trem. Fato (quase) justificável apenas porque as duas linhas metropolitanas (Caucaia e Vila das Flores) disponíveis nunca fizeram parte de nosso itinerário, normalmente concentrado na Aldeota, Meireles, Papicu, Fátima, Centro, entre outros lugares onde o trem não chega. Trata-se de uma experiência fascinante andar de trem pela primeira vez. Para os que vivem o dia-a-dia no terminal ferroviário, o cenário não surpreende há muito tempo. Ninguém deseja notar ninguém. Todos parecem concentrados apenas em seus afazeres do dia. Enquanto isso, ficamos, a olhar, fascinados, o entra e sai do vagão. Uma Fortaleza que não conhecíamos até hoje.

Assim que chegamos, sentamos num banco, perto da porta de saída. Um trem acabou de chegar. Pessoas passam na catraca e seguem rumo à saída da estação. Com o vento, é possível sentir uma mistura muito intensa de cheiros. Vários perfumes diferentes pousam em nossas narinas. As pessoas nos olham, como se estranhassem nossa presença naquele lugar. João, Pedro, Maria, Joaquim, Francisca.. anônimos que provavelmente acabaram de sair de casa, sem esquecer de passar a lavanda que costumam usar diariamente.

No guichê, escolhemos nosso destino: a Linha de Caucaia. Seguiremos o rumo das estações Padre Andrade, São Miguel, Parque Albano, Jurema, Araturi, Caucaia, depois tudo de novo, só que em sentido oposto.

Ao contrário de um motorista de ônibus, o maquinista não consegue ver quem entra e quem sai do trem. Ele não tem como esperar as pessoas subirem, olhando pelo retrovisor. O trem não espera por ninguém!

A segurança do local parece estar bem resguardada. Há muitos agentes da Guarda Municipal observando o movimento. Um deles vem até a porta e pede para uma mulher tirar os pés do banco, para que mais pessoas possam se acomodar. O guarda dá o recado e sai, sem saber se foi atendida sua solicitação. A mulher o ignora e continua com os pés onde estavam, enquanto pede para dar uma olhada na câmera fotográfica que portamos. "Se preocupa não que não vou roubar... É só pra olhar"...

O vagão que escolhemos é o último. Engraçado como é organizada a posição dos passageiros. Mais uma vez, é inevitável a comparação: diferentemente do ônibus, onde as cadeiras são dispostas em seqüência, no trem urbano, ficamos sentados lado a lado por toda a extensão da composição, cada lado do vagão com um banco, nos posicionando de frente para outros passageiros. Invariavelmente somos pegos fitando o olhar de quem está logo à frente. Isto favorece sobremaneira os observadores.

A observação seguinte é quase pertinente, se não redundasse numa explicação quase óbvia: "por que as janelas são todas gradeadas?" A solução para o mistério criado por nossa ingenuidade provinciana vem em poucos minutos. Uma passageira comenta com alguém que num determinado trecho é comum alguns "moleques" jogarem pedras em direção aos vagões. Desta maneira, torna-se imperativo que o aspecto dos carros seja mesmo próximo a de um tanque de guerra, onde pouco se vê do lado de fora das janelas. Não há muito o que observar no caminho. Aquelas imagens que nos acostumamos a ver em trens de filmes encenados na Europa, com enormes janelas oferecendo belas paisagens aos borbotões, nada têm de similar com as que vemos na linha de Caucaia. No pouco revelado pelo cúbiculo, que sequer pode ser chamado de janela, a paisagem não nos insinua muita variedade. São apenas casas parecidas umas com as outras, fios elétricos e mato, muito mato.

Essa sensação inevitável de clausura provoca a curiosidade de alguns passageiros desavisados. Um rapaz à nossa frente comenta com a moça sentada a seu lado: "faz uns quatro anos, vi um moleque prender a cabeça na porta. Ele ficou de uma estação até a outra enganchado pelo pescoço. Foi uma luta pra tirar!" Parece piada de mau gosto, mas um repeteco do relato feito há pouco acontece diante de nossos olhos. Um homem de muletas resolveu colocar a cabeça para fora da porta, provavelmente para aliviar o tédio da viagem sem janelas. A porta se fecha de repente. A mobilização é imediata. vários homens correm para ajudá-lo, enquanto outras pessoas tentam, desesperadamente, gritar para os que estão na plataforma da estação onde estamos avisarem o maquinista. "Ele tá morrendo!!", grita uma mulher, outra já está aos prantos, chocada com a imagem. Após algumas centenas de metros percorridos, o trem finalmente pára e a porta se abre. Exausto, o homem procura se apoiar no banco para respirar. Ele está empapuçado de suor. Meio sem graça, logo se vira novamente para a primeira janelinha ao lado e fica a observar a quase paisagem, como se nada fosse com ele. Muito provavelmente foi salvo pela precariedade das portas do vagão, que são "semi-automáticas" no mau sentido, pois só funcionam de vez em quando. Em péssimo estado de conservação, corroídas e caindo aos pedaços, as portas mais parecem pedaços de mobília que foram adaptados ali para substituir provisoriamente as de verdade. Um cidadão, que ajudou a soltar o moço de muletas, mostra onde está o "equipamento de segurança" para casos emergenciais como esse. Uma alavanca enferrujada, que fica ao lado de cada porta: é tudo o que há para tentar evitar uma tragédia. O homem, um aposentado que há muitos anos viaja naqueles vagões, diz que, ao puxá-las, as portas devem ser abertas automaticamente. O problema, além, é claro, da visível fragilidade do equipamento, corroído pela ferrugem, é que a alavanca está escondida debaixo dos bancos, sem indicação nenhuma do que é, tampouco de como funciona. Após uma rápida conversa conosco, o senhor, que diz que mora na Vila Peri, desce na penúltima parada.

Mais a frente do vagão, um homem, com um bebê no colo, nos chama a atenção. Aparenta ser um jovem pai que provavelmente levou a criança para alguma consulta médica e agora volta para seu bairro. O terço em sua mão esquerda denota serenidade. O bebê parece ter puxado ao pai em seu comportamento: muito calmo, não esboça sequer uma reclamação durante toda a viagem. Quieto, ele apenas observa enquanto se acalenta no colo do pai, que, por sua vez, carinhoso, conversa baixinho, como se o filho já pudesse entender tudo o que sai de sua boca. "Mas será que são mesmo pai e filho?" Bem, o amor recíproco não deveria deixar dúvidas, mas não há como saber sem perguntar.. É uma imagem bonita de qualquer forma. Principalmente naquele ambiente um tanto desolado, esquecido por muitos.

Na estação de Caucaia, embarcam dois homens. Um deles com uma camisa azul, onde está escrito "Gazeta do Pará", diz para o outro que, certa vez, ouviu o comentário de uma turista: "esta cidade (Caucaia) não tem prefeito??". Ela se referia, segundo ele, ao péssimo estado de conservação daquela estação de trem. O rapaz lembra para o outro que os trens da cidade de Natal são muito mais bem conservados. O outro, que veste um uniforme da Unimaq, loja autorizada da Honda em Fortaleza, ressalta que os vagões novos ainda são piores do que os velhos. "O novo é quente viu, irmão.". O de camisa azul começa a falar sem parar. Com bom vocabulário, ele recomenda ao outro um documentário que viu na Rede Cultura. "A linha do trem: o caminho esquecido", era o título, de acordo com ele. Tudo a ver com a idéia que à essa altura já formulamos a respeito daquele passeio.

No caminho de volta, poucas anotações. Desperta interesse apenas a mudança de posição do carro que puxa os vagões, se engatando novamente na composição, agora à nossa frente. O encaixe provoca um estrondo que assusta alguns passageiros mais incautos. O último vagão na ida passa a ser o primeiro na volta.

A viagem de retorno é mais rápida. O trem, sabe-se lá o porquê, se locomove mais rápido agora. Tempo necessário apenas para que compremos uma mousse de maracujá, que um homem está oferecendo no fim do vagão. Mousse essa que quase vira história quando a Juliana aperta demais a embalagem, fazendo-a sacar para fora e, por milagre, cair novamente dentro do recipiente, numa manobra impossível. Rimos bastante ainda enquanto ela termina de comer a guloseima.

Em poucos minutos, estamos novamente na João Felipe. Sentimos que há um espaço a menos a completar em nossas vidas. Finalmente andamos de trem na cidade de Fortaleza. Uma história a mais para aplacar um pouco a nossa ignorância do mundo. Um mundo que começa naquelas linhas. A linha de Caucaia hoje, para nós, foi uma forma de perceber que há erros imperdoáveis na vida, como aquele que cometíamos esquecendo algo que sempre foi nosso. Felizmente, tornou-se possível voltar atrás nesse erro, que se assemelha ao desatino de um pai ao renegar um filho que não lhe parece bonito. Mas o terminal ferroviário João Felipe - assim como aquele trem - é nosso. Nosso filho, pai, mãe, irmão... Nossa história, que se passa todos os dias sobre aqueles trilhos e jamais há de ser esquecida novamente.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Google: poderosa ferramenta acadêmica, mas também pode vir a ser dedo-duro

Nájila Cabral é professora do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (Cefet-CE). Pesquisadora acadêmica há mais de 12 anos, trabalha no Laboratório de Energias Renováveis e Conforto Ambiental, vinculado à Gerência da área de Construção Civil do Cefet. Hoje, é doutora em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
Nesta entrevista, Nájila discorre sobre as vantagens e desvantagens do Google como recurso de pesquisa acadêmica e sobre sua experiência em lidar com as ferramentas do Google. A pesquisadora também dá dicas de como aperfeiçoar as buscas de conteúdos para teses, dissertações e monografias na rede.
Nájila lembra ainda que os pesquisadores desonestos podem até se utilizar do Google, mas também podem encontrar sua punição por meio dele.

Por Julião Jr. e Pery Negreiros

O Google é uma ferramenta utilizada em pesquisa usualmente?

Sim. Tanto os pesquisadores professores como os pesquisadores estudantes, de iniciação científica, da graduação, mestrado e doutorado, têm utilizado as ferramentas do Google para pesquisas científicas. Existem algumas vantagens e desvantagens.

Quais são essas vantagens para os pesquisadores?

Na medida em que a gente tem uma ferramenta de busca como o Google, ela permite, dentro de toda a rede mundial de computadores, o acesso a arquivos, tanto em língua portuguesa como em outras línguas, a bancos de dados e informações existentes depositados nessa rede. O que antes de uma ferramenta como o Google ou de outras ferramentas parecidas, como esses sites de busca, a gente só tinha acesso por intermédio de periódicos nas bibliotecas. Com ele, você tem acesso a bibliotecas digitais e uma série de dados e informações que estão disponíveis.

O que antes era de acesso restrito...

Que antes eram restritos aos locais de acesso de maneira escrita.

Pesquisa é um negócio muito sério e todo mundo coloca o que quer na internet. Como é que a senhora utiliza o Google para ter segurança naqueles dados pesquisados por meio dele?

A gente costuma falar sempre para os alunos que devemos tomar cuidado com os instrumentos. E o Google é um instrumento, uma ferramenta. E, conforme você colocou, existem diversos sites e arquivos disponibilizados na rede, alguns com referências, outros que a gente costuma chamar de “lixo”. Então, é interessante que o aluno e o pesquisador tenham ciência que os dados com os quais eles vão se referenciar, se reportar, no Google, devem ter esse lastro cientifico. Caso contrário, eles devem ser negligenciados, deixados de lado.

Com sua experiência em bancas de mestrado e doutorado, a maioria dos alunos usa bem essa ferramenta ou está fazendo pesquisa de uma maneira errada?

A gente tem verificado junto aos alunos de iniciação científica, graduação, mestrado e doutorado que eles têm utilizado essa ferramenta como busca de artigos e teses disponíveis em bancos de dados virtuais e que, alguns, infelizmente, não têm agido de forma legítima ou legal, ou seja, fazendo cópias não autorizadas. Já tive algumas ocasiões em que alunos copiaram trabalhos que estavam disponíveis na rede – por intermédio do Google, basta colocar um assunto específico que você queira – e trocaram o nome do autor pelo nome do aluno e entregaram o trabalho. Isso é tipificado em lei como plágio.

Então, o Google é um pouco de dedo-duro nesse momento?

Assim como os alunos têm a facilidade de acessar os arquivos, os professores também têm. Então, não é tão difícil, para o pesquisador, encontrar os caminhos que os alunos encontraram para fazer download de alguns arquivos.

Você poderia dar algumas dicas aos alunos que estão para fazer monografia no sentido de que o Google os ajude a fazer suas pesquisas?,Pois, para muitos, é um momento meio que desesperador...

Eu gosto muito do Google acadêmico, que é uma ferramenta do próprio Google, que te dá acesso realmente a um banco de dados científico e acadêmico, com teses dissertações, artigos em periódicos e em revistas especializadas. Então, isso garante uma base de dados com critério e referência. E isso para academia é interessante. Algumas outras ferramentas disponíveis no Google, como o Google Earth, são bem interessantes para que os alunos, por exemplo, de Geografia, Arquitetura e Urbanismo, ou pessoas que trabalham na área ambiental, possam visualizar o espaço geográfico. Então, o Google te dá um leque de informações, de possibilidades, de instrumentação, que te facilita de alguma forma, mas é preciso realmente ter consciência do que se está fazendo, do que se quer, para poder ter um resultado satisfatório.

Com sua experiência, o que o Google significa para a senhora, como pesquisadora?

Facilitou bastante a vida do pesquisador, porque é um site de busca, mas que pode ser chamado de site de pesquisa. Mesmo não conseguindo ir direto para aquele endereço eletrônico desejado, a gente consegue mais ou menos uma direção para conseguir a fonte primária, como a gente costuma falar, as quais a gente está sempre em busca. Mas não apenas o Google é importante, pois existem outros sites que deveriam ser mais procurados pelos estudantes e que dão acesso, inclusive, a dados mais amplos, como o Altavista. Para o acesso a periódicos, indico aos meus alunos que procurem no Capes, onde você tem uma base de dados interessante para a área de conhecimento.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

As Convergências, o podcast e os integrados


No início do Século XX, o jornal era praticamente a única fonte de informação. Hoje, com a web, não é mais. Em vez de se digladiarem, como pensavam os apocalípticos, as mídias interagem entre si, contribuindo com as convicções dos integrados pró-Macluhan. Nos últimos anos, no âmbito jornalístico, as convergências midiáticas têm se firmado como realidade . Entretanto, para muitos, suas possibilidades ainda estão incipientes, especialmente no Brasil.

Ricardo Sabóia, professor do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza e entusiasta do ambiente virtual, avalia que mesmo os mais tradicionais veículos de comunicação, como o New York Times, têm se rendido a essa tendência das convergências, um tanto recente, mas que já está formando uma geração de jornalistas detentores de uma grande familiaridade com a rede. Os jornais “pararam de ver a internet como rival. Só que parar de ver a internet como rival é você admitir que é necessário produzir um conteúdo diferenciado que atenda a pluralidade da linguagem da web.”, diz.

Sabóia lembra que o jornal norte-americano começou a investir para se adaptar à era da web. “Durante muito tempo o site do New York Times era muito feio. A navegabilidade era horrível. Mas hoje você já vê sessões multimídia, jornalistas abastecem o site com conteúdo, independente ou não de escreverem no impresso. Por exemplo, o principal crítico de música do jornal (Jon Pareles) mantém um podcast na web”, cita.

Falando em podcast e em convergências, outro aficionado pela proposta de usar e abusar dos meios em prol da informação é o estudante de jornalismo Ronaldo Pinto. Ele também é dono do site razãotricolor.com.br, dedicado a cobrir o dia-a-dia do Fortaleza Esporte Clube, e nele, costuma implementar muitas de suas idéias. “Muito antes de se ouvir falar em podcast, eu já trabalhava uma idéia bem parecida no site”, conta. Ronaldo se refere à ação de gravar debates promovidos pelo Razão Tricolor, que tratavam de questões polêmicas do esporte – especialmente, é claro, quando os interesses do “Leão do Pici” estivessem envolvidos. Os programas eram gravados em mp3 e logo em seguida disponibilizados na rede.

Quanto ao uso de podcasts aqui no Ceará, Ronaldo acredita que é muito pouco difundido ainda. Não apenas esse recurso, mas toda a internet não é bem explorada. No caso de Ronaldo, isso acontece apenas por falta de condições financeiras. “Eu tenho um projeto do site todo disponível para 3G (terceira geração de celulares), mas está engavetado, porque custa muito caro”, afirma, com a frustração de quem tem um mar pela frente e não pode desbravá-lo.

Ao conjecturar sobre esse mundo de possibilidades da convergência, Ricardo Sabóia confia que o podcast vai conduzir a uma nova relação entre o rádio e seus ouvintes. “Antes, você ainda precisava estar ouvindo o rádio simultaneamente para acompanhar um programa. Não precisará mais”, pondera.

Convergindo:

Podcast: a tecnologia
Podcast: o perfil do usuário
Podcast: possibilidades

quarta-feira, 2 de abril de 2008

É possível um "Wikijornal"?

Irreversível. Essa é a melhor definição para a proliferação da Web 2.0, ou internet colaborativa no contexto da informação. E Liberdade parece ser a palavra chave, atrativo principal da rede mundial de computadores, que não pára de se movimentar durante as 24 horas do dia. Os internautas há muito não vêem as coisas acontecerem diante de seus olhos, mas sim participam ativamente da construção de um novo mundo. A liberdade de ir e vir, entregar e trazer informações, arquivos, softwares, músicas ou simplesmente conhecimento é o que move esse ciberespaço.

Para o campo jornalístico, a grande discussão que se formou, diante desse quadro de mudanças constantes, diz respeito à participação dos leitores na construção do material informativo, opinativo e interpretativo que vai ao ar todos os dias na rede. As possibilidades técnicas apresentadas pelo meio interativo trouxeram uma discussão interminável com relação à legitimidade dessas informações.

Exemplo de internet colaborativa mais marcante é, sem dúvida, a Wikipedia, nada mais que uma enciclopédia eletrônica com atualizações constantes feitas pelos próprios internautas, cadastrados previamente no site. A partir do conceito da Wikipedia, poderíamos elaborar o questionamento: será que um dia teremos a oportunidade de ver um jornal eletrônico forjado nesse modelo, ou seja, com reportagens colaborativas, feitas por pessoas comuns, complementando os textos com informações que achem relevantes? Parece meio improvável, não é? Algo parecido com o termo “samba do crioulo doido”, mas longe de ser impossível viabilizar haja vista as proporções que as coisas vêm tomando.

Então, vamos imaginar o processo de produção desse jornal hipotético. Primeiro, no início do dia, ocorreria uma reunião de pauta... Xii! Mas como seria possível essa reunião?? Não, não, melhor não se atrever a tanto. Deixemos isso para quem tem mais imaginação. George Orwell, ou Tolkien, talvez.

terça-feira, 11 de março de 2008

Kibe esperto

Um dos produtos de maior sucesso na blogosfera nacional na atualidade é o Kibeloco. Criado pelo publicitário Antonio Tabet, em 2002, para driblar a monitoração da empresa onde trabalhava sobre os conteúdos acessados pelos funcionários na rede, o blog – hoje um site – tem um acesso diário de mais de 200 mil usuários.

O site de Tabet atualmente funciona como uma espécie de Observatório da Imprensa, sendo que numa versão politicamente incorreta e, para muitos, totalmente descompromissada com a informação. Será que é mesmo?

Uma das maiores diversões (ops), ou melhor, atividades do blogueiro – que, dizem, trabalha sempre sozinho – é sair catando chamadas no noticiário nacional e internacional que possam vir a ser transformadas em matéria-prima para suas “observações”. Tabet adora pegar uma manchete que esteja inadequadamente escrita do ponto de vista informativo, principalmente as que ofereçam possibilidade para interpretações de duplo sentido. Uma dessas situações pôde ser vista na última terça-feira, 11 de março, na seguinte manchete: “Após nove cirurgias, Luizão (jogador de futebol) diz que ainda tem prazer”. De pronto, o blogueiro disparou a gracinha: “Peraí, ainda estamos falando de futebol???”

É possível afirmar que o emprego de Tabet é um dos melhores do mundo. Sua função se resume a praticamente receber colaborações dos milhares de leitores fiéis que possui pelo Brasil para, em seguida, bolar um texto criativo – e isso ele faz com maestria, diga-se – com tiradas bem-humoradas sobre causos do dia-a-dia, sejam elas ocorridas no mundo das celebridades, ou no Bar do Valtim, na esquina da sua casa. E já se vão muitas vítimas do Kibeloco durante seus mais de cinco anos de existência. Algumas parecem fazer questão de ilustrar as páginas do site quase diariamente, como (cantora?? apresentadora??) Carla Perez ou Preta Gil (cantora?? apresentadora??).

Mas é óbvio que para trabalhar com isso é necessário talento (de Tabet, é claro, não das pessoas supracitadas, visto que são claramente desprovidas desse atributo) em altas doses para que a picardia não se transforme em pura baixaria, como aconteceu no famoso caso da montagem com uma foto da senadora Heloísa Helena, que simulava uma capa da revista Playboy com a parlamentar em trajes mínimos.

Excessos a parte, creio que o site (ou blog) não deixa de ter conteúdo jornalístico, atuando como nada mais do que um espaço de caráter opinativo. Especialmente porque o blogueiro em questão também acerta, e muito. E, além disso, as troças de Tabet não passam de charges, nos mais variados formatos, de pessoas anônimas e famosas, extraídas do cotidiano dos sites noticiosos.

Preconceitos contra a irreverência do Kibeloco existem porque a maioria das pessoas ainda não atentou para a força que possui o humor ao transformar temas, muitas vezes delicados, como a guerra urbana diária no Rio de Janeiro (post dia 04 de março) em ponto de partida para reflexões, mesmo que isso se dê por vias tortas. Afinal, como abordado de maneira irônica no blog, que diferença há entre a situação caótica da segurança pública naquela cidade nas últimas décadas e aquela vivida por países em posições beligerantes?

Poderia até ser formada uma discussão acerca da legitimidade como fonte de informação deste blog-site, ao lidar com a imagem de terceiros sem se preocupar em ser leviano. Mas isso, convenhamos, seria um exercício extremamente chato, que nós bem que podemos deixar para os advogados de Tabet abordarem dentro de sua defesa nos inúmeros processos judiciais que devem existir movidos contra ele.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Golpistas utilizam nome do MPF na Rede


Diversos internautas notificaram a PRG sobre falsos e-mails enviados

Golpistas estão se apropriando indevidamente do nome do Ministério Público Federal (MPF) para ter acesso a dados confidenciais de usuários na internet em todo o país. A fraude estaria sendo realizada por intermédio de e-mails, que viriam com uma mensagem de intimação, utilizando um falso brasão do MPF.

Segundo a Procuradoria Geral da República, várias pessoas comunicaram que receberam mensagens eletrônicas, enviadas em nome do MPF, com supostas intimações para comparecer a audiências referentes a falsos processos investigatórios.

De acordo com o órgão, o MPF não costuma enviar e-mails com intimações aos internautas e, além disso, o brasão divulgado no site, na realidade, não existe. A orientação da Secretaria de Tecnologia da Informação do MPF é não abrir mensagens dessa natureza, não clicar nos links e apagá-los imediatamente.

Conforme o Centro de Estudo, Resposta e Tratamento de Incidentes no Brasil (Cert), essas mensagens eletrônicas não solicitadas costumam servir para que golpistas, por meio do nome de uma instituição de credibilidade, possam ter acesso a dados pessoais e financeiros do usuário.


Não clique em mim!!

O e-mail é um vírus que reenvia a mesma mensagem para todos os contatos do usuário até que alguém o abra. "A pessoa pode até abrir o e-mail, mas o que não deve é clicar no link, pois é assim que o vírus se prolifera", explica o técnico de informática da Procuradoria, Alexandre Marques.